Tuesday, August 11, 2020

A projeção nacional das eleições municipais de São Paulo

 As eleições municipais de 2020 são atípicas. Ao contrário dos outros anos eleitorais, as discussões desse ano não giram em torno das discussões sobre os problemas do bairro. Os diferentes partidos e alianças vem antecedendo as discussões e projetos políticos que vão disputar em 2022, projetando nacionalmente as suas candidaturas nas cidades brasileiras. Movimento que parece contraditório, na verdade é uma resposta à crise das legendas partidárias convencionais e a crescente convulsão social nos grandes centros urbanos. Com o país batendo a marca de 100 mil mortos por covid-19, aumento do desemprego e milhares de pequenas e médias empresas fechando, o país carece de um projeto nacional que combata uma das piores crises da história brasileira.  

Como as eleições só estão marcados para daqui dois anos, os partidos encontraram nas eleições municipais o espaço adequado para debater quem vai administrar o país e solucionar a crise da Nova República. As tradicionais coligações partidárias estão desaparecendo ou se renovando, enquanto novas lideranças políticas estão surgindo. As alianças e rupturas que vem sendo construídas desde a última eleição presidencial, se expressam de maneira explicita esse ano. 

Seguindo essa linha, a maioria dos partidos está mais focado nas candidaturas da capital paulista. Cidade mais populosa do Brasil, as eleições na capital são as que tem maior projeção nacional, com as disputas dentro dos partidos mais acirradas e vigiadas pelas lideranças nacionais. 

Analisando as forças posicionadas até o momento, as disputas estão focadas entre as forças democráticas e a disputa da liderança dos partidos de esquerda e direita. O bolsonarismo, no entanto, ainda não definiu seu candidato e provavelmente nem vá focar nessa questão. 

 A disputa à direita está nas mãos do tucanato que aposta na reeleição de Bruno Covas e os dissidentes do conservadorismo federal, rodeado nas candidaturas de Joice Hasselmann e Arthur do Val. A diferença entre essas forças liberais e conservadoras é pequena, restrita a pauta dos costumes e algumas questões cotidianas, mas com a mesma agenda privatista: privatização de rodovias, atração dos investimentos privados e concessões as Organizações Sociais. Se essas forças vencerem, as chances de Dória e Sérgio Moro em 2022 aumentam, sendo a do governador mais forte com a reeleição do PSDB. 

Do outro lado, as forças à esquerda também estão divididas da mesma forma que nas eleições presidenciais de 2018. Os candidatos mais ao centro, firmados na coligação PSB-PDT, com Márcio França e o trabalhista Antônio Neto, apontam para uma maior flexibilização e concessão a pautas liberais, afinal, o candidato do PSB é historicamente ligado a ala mais à direita do partido, tendo sido vice-governador na administração de Alckmin na cidade. Já as candidaturas e partidos tradicionalmente ligados aos movimentos populares, estão divididas entre a ala burocrática paulistana petista, com a candidatura de Jilmar Tatto, e a renovação das lideranças populares, com a candidatura de Guilherme Boulos pelo PSOL. Boa parte do eleitorado do PT vem descartando o apoio a Tatto e fazendo campanha para Boulos, por ser a promessa da renovação da esquerda. De um lado, a sigla petista propõe uma administração moderada, nos moldes do que foi em 2012 com Haddad, enquanto que o PSOL vem discutindo um projeto mais radical, que toque nos privilégios da elite paulistana, com desapropriação de imóveis abandonados, reversão das privatizações e tarifa zero nos transportes públicos. Caso a coligação PSB-PDT vençam, o caminho para o trabalhismo moderado na imagem de Ciro Gomes ganha espaço, com os partidos PSB, PDT, Rede e PV. Já a eleição de Tatto é pouco provável, mas a de Boulos abriria caminho em 2022 para o PSOL, PCdoB e PT, provavelmente na imagem de Flavio Dino. 

De qualquer forma, aqueles que ganharem as eleições, estarão um passo à frente dos outros na corrida eleitoral de 2022. Além de que, se a administração for diferente da atual do Governo Federal e ganhar popularidade entre a população, as forças bolsonaristas vão estar mais isoladas na próxima eleição presidencial, abrindo espaço para o fim da escalada autoritária. 

A projeção nacional das eleições municipais de São Paulo

  As eleições municipais de 2020 são atípicas. Ao contrário dos outros anos eleitorais, as discussões desse ano não giram em torno das discu...